Chatbots de IA conseguem influenciar intenção de voto, mostra estudo

Conversas com chatbots de inteligência artificial conseguem mudar a intenção de voto de eleitores em disputas reais. É o que mostra um estudo publicado na revista Nature, que testou o poder de persuasão desses sistemas durante a eleição presidencial dos Estados Unidos de 2024 e nas eleições nacionais de 2025 no Canadá e na Polônia.

Os pesquisadores criaram modelos de IA programados para defender um dos dois principais candidatos em cada país. Eles interagiram com milhares de voluntários, sempre com um tom educado e “baseado em fatos”, tentando convencer a pessoa de que seu candidato era a melhor opção. Os participantes sabiam que o chatbot tentaria persuadi-los.

Quais são as mudanças reais na intenção de voto?

Após poucos minutos de conversa, os voluntários passaram a demonstrar mais simpatia pelo candidato defendido pelo chatbot. Isso ocorreu tanto entre quem já apoiava aquele candidato quanto, com efeito ainda maior, entre quem inicialmente era contrário a ele.

Nos Estados Unidos, o estudo envolveu 2.306 eleitores antes da disputa entre Kamala Harris e Donald Trump. No Canadá, o robô defendia Mark Carney (Partido Liberal) ou Pierre Poilievre (Conservador). Na Polônia, a IA argumentava a favor de Rafał Trzaskowski, da aliança centrista-liberal, ou de Karol Nawrocki, associado ao partido de direita Lei e Justiça.

Em todos os cenários, temas concretos, como políticas públicas, foram mais persuasivos do que argumentos sobre personalidade. E, de modo geral, o impacto das conversas foi maior do que o observado em séries históricas de experimentos com propagandas políticas tradicionais.

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O que acontece quando a IA erra?

Os pesquisadores também analisaram dezenas de milhares de afirmações feitas pelos modelos. A maioria era precisa, mas houve um padrão: em todos os países, chatbots programados para defender candidatos de direita cometeram mais erros factuais do que os que defendiam candidatos de centro ou esquerda, mesmo sob instruções explícitas para serem “verdadeiros”.

Isso não tornou os robôs mais eficazes, pois dizer coisas falsas não aumentou o poder de convencimento. Mas os autores destacam que esse desequilíbrio cria um problema para eleições futuras, já que os modelos aprendem com conteúdos disponíveis online; ou seja, ambientes onde a desinformação não é distribuída de forma uniforme.

O que tudo isso significa para as democracias?

Os experimentos foram realizados em condições controladas e não simulam perfeitamente o ambiente eleitoral real. Mesmo assim, os autores afirmam que os resultados funcionam como um alerta: a capacidade de um chatbot de manter conversas longas, personalizadas e baratas pode transformar o cenário das campanhas políticas.

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Se podem influenciar mesmo quando o eleitor sabe que está sendo alvo de persuasão, o impacto pode ser ainda maior quando a interação ocorre de forma espontânea ou disfarçada.

Para os pesquisadores, o desafio agora é estabelecer regras para o uso político da IA, antes que ela se torne um ator invisível, porém decisivo, nas eleições.

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