HIV e Aids: por que 2025 pode ser o ano da virada no Brasil

Durante cinco décadas, o HIV e a Aids rondaram vidas com medo, estigma e fatalismo — vistos como sentença, preconceito e silêncio. Hoje, apesar dos avanços, milhares de brasileiros continuam recebendo esse diagnóstico. Em 2023, foram registrados cerca de 46.500 novos casos no país. No total, mais de 1,1 milhão de pessoas vivem com HIV no Brasil — muitas ainda sem saber.

A falta de diagnóstico mantém a transmissão ativa, mesmo com o país avançando em testagem, tratamento e supressão viral. A transmissão vertical, hoje abaixo de 2%, mostra progresso, mas ainda requer atenção constante. No Dia Mundial de Combate à Aids, é importante falar sobre esse tema.

Ferramentas existem, mas o diagnóstico ainda chega tarde

É justamente aqui que surge a contradição de 2025: nunca tivemos tantas ferramentas eficazes. A testagem está mais acessível; as terapias antirretrovirais são mais modernas, seguras e simples, muitas vezes reduzidas a uma única pílula diária. Novos medicamentos de prevenção, aplicados a cada dois meses, estão em avaliação para incorporação ao SUS, prometendo mais comodidade e proteção. Mesmo assim, muitos chegam tardiamente ao diagnóstico, quando a infecção já avançou. Sem conhecer seu status sorológico, milhares deixam de iniciar tratamentos que poderiam garantir saúde, prevenir complicações e interromper a cadeia de transmissão.

Por isso, é essencial reforçar a mensagem que mudou a história da epidemia: indetectável = intransmissível. Quando a pessoa em tratamento mantém a carga viral suprimida, ela não transmite o vírus. Isso redefine relações, reduz estigma e transforma a saúde pública. Da mesma forma, ampliar a testagem no pré-natal, garantir acesso rápido ao tratamento e acompanhar gestantes são ações centrais para eliminar a transmissão vertical de forma definitiva.

Cura: esperança sustentada por ciência em ritmo acelerado

Ao mesmo tempo, vivemos uma fase sem precedentes na busca pela cura. Casos raros de erradicação completa do vírus após transplantes de medula mostram que eliminar o HIV é biologicamente possível. Pesquisas com anticorpos amplamente neutralizantes, edição genética e terapias imunológicas avançam como nunca, mirando os reservatórios onde o vírus se esconde. A cura universal ainda exige tempo, mas a ciência está mais perto do que jamais esteve.

Ainda mais promissoras são as perspectivas de cura funcional — quando a pessoa mantém o vírus controlado naturalmente, sem medicação diária e sem risco de transmissão. Estudos com terapias de longa ação, vacinas terapêuticas e combinações de anticorpos já permitem que alguns pacientes fiquem meses ou anos sem antirretrovirais, mantendo a carga viral indetectável. Se confirmada em larga escala, essa possibilidade revolucionará a vida de milhões, reduzindo a dependência de medicamentos e ampliando o bem-estar.

O que cada pessoa pode fazer para virar o jogo

Nesse contexto, cada cidadão exerce papel decisivo: testar-se regularmente, conhecer seu status, abandonar preconceitos e buscar tratamento quando necessário. Viver com HIV hoje não é sentença, e sim uma condição crônica manejável — desde que haja informação, responsabilidade e empatia.

A eliminação da Aids como problema de saúde pública não virá apenas da esperança, mas da ação: testagem ampla, diagnóstico precoce, tratamento universal e manutenção da supressão viral. 2025 pode — e deve — ser o ano da virada definitiva, desde que transformemos avanços científicos em políticas efetivas e cidadania ativa.

Que este seja o marco de uma nova era: de dignidade, saúde e liberdade para todos.

*Texto escrito pelo infectologista Roberto Muniz Junior (CRM/SP – 135398 | RQE 35.142), diretor técnico da Santa Casa de São Carlos

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