Os discursos proferidos durante a COP30 seguem um padrão já conhecido, mas carecem de ações práticas efetivas para combater as mudanças climáticas, alerta Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, durante participação no WW.
Segundo ele, as manifestações dos líderes mundiais repetem palavras como “ciência”, “ambição” e “respeito à natureza”, sem resultados concretos.
Um dado particularmente alarmante ressaltado por Astrini é que os dez anos posteriores ao Acordo de Paris foram os mais quentes já registrados na história da humanidade.
Além disso, 2023 marcou um recorde de emissões de gases de efeito estufa, evidenciando a disparidade entre o discurso e a prática no combate às alterações climáticas.
“Os discursos são muito bonitos. Você até tem uma sensação de alívio quando ouve esses líderes falarem, mas eles não vão para o papel. Muito menos para ação prática”, disse Astrini.
Impactos e desigualdades
As consequências das mudanças climáticas já são visíveis e letais. Estima-se que ocorrerão mais de 250 mil mortes incrementais no mundo apenas devido às ondas de calor, sem contar as perdas causadas por secas e enchentes.
Astrini ressalta que esses impactos afetam de forma desproporcional as populações mais vulneráveis, aumentando as desigualdades entre países e dentro deles.
O especialista aponta ainda para a falta de comprometimento de nações que contribuíram significativamente para a crise climática. Os Estados Unidos, por exemplo, permaneceram mais tempo fora do que dentro do Acordo de Paris, uma situação que ele classifica como “absurda”.
“Então essa mudança do clima, ela vai aumentando as desigualdades entre os países, vai castigando inclusive os que contribuíram pouco para a situação. E aqueles que contribuíram muito, como é o caso americano, dos Estados Unidos, virou as costas para o problema e disse: ‘Olha, se virem aí que eu não quero nem saber'”, disse o secretário-executivo.
Conferências como solução imperfeita
Apesar das críticas, Astrini reconhece que as conferências climáticas, mesmo com suas limitações, representam a melhor alternativa disponível até o momento.
Ele argumenta que, sem esses encontros, a situação poderia ser ainda mais grave, embora os resultados ainda estejam aquém do necessário para enfrentar a emergência climática global.
“[…] é a melhor alternativa que encontramos até agora. Ela pode não ser boa, mas é o melhor que nós temos. Tem algum efeito porque a coisa poderia ser bem pior se não houvesse essas conferências”, concluiu Astrini.