Volvo projeta alta tímida da venda de caminhões no 2º semestre

A Volvo projeta uma ligeira recuperação na venda de caminhões novos no Brasil no segundo semestre. De acordo com Alcides Cavalcanti, diretor executivo da Volvo Caminhões, a retração nos primeiros seis meses do ano era esperada. Segundo o executivo, isso é resultado de incertezas na economia, bem como da alta dos juros e da volatilidade fiscal. Ou seja, variáveis que prejudicam novos negócios, sobretudo no segmento de pesados, bastante dependente de linhas de crédito.

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Entretanto, o ritmo da queda das vendas surpreendeu o executivo da Volvo do Brasil. “No início do ano, projetamos um recuo de 10% no mercado (de caminhões) acima de 16 toneladas. Porém, o recuo foi da ordem de 6%. Mas se a gente separar por segmento, a queda foi mais expressiva nos pesados, de 14%. E os semipesados deram um certo equilibro, graças ao aumento de vendas de 16%”, explica Cavalcanti em entrevista exclusiva ao Estradão.

Cenário de mercado exige adaptação das montadoras

Segundo o executivo, em anos passados os caminhões pesados eram mais representativos nas vendas frente aos semipesados. Porém, isso se inverteu por causa de fatores econômicos.

Seja como for, a Volvo aposta em uma leve recuperação das vendas de pesados nos próximos meses. De acordo com Cavalcanti. Sobretudo, puxada pela super safra de milho e a alta na demanda industrial, que deve ocorrer no fim do ano. “Teremos movimentação do agro, encomendas de Natal e as exportações de proteínas animais em alta. Esses fatores podem segurar o mercado, mesmo com os juros ainda pesando muito no financiamento”, afirma.

Entretanto, ele lembra que, mesmo que essas expectativas se concretizem, o segundo semestre não será tão pujante quanto o mesmo período do ano passado. Afinal, a Fenatran, realizada em novembro de 2024, contribuiu para dar mais movimento ao mercado.

Dessa forma, o executivo da Volvo acredita que a segunda metade deste ano poderá ser parecida com o primeiro semestre. Ou, no melhor dos cenários, um pouco acima em termos de volume de vendas. “Mas comparando o segundo semestre deste ano com o mesmo período em 2024, o cenário vai ser de queda. Possivelmente de pelo menos 20%”, acrescenta.

Em outras palavras, mesmo olhando os fatores positivos, a Volvo mantém a projeção feita no início do ano. Ou seja, de queda de 10% nas vendas de caminhões acima de 16% em 2025.

Volvo Caminhões projeta reação tímida no 2º semestre, mas puxado por semipesados
Volvo mantém a projeção de queda de 10% no mercado acima de 16 t de PBT, muito em razão do baixo desempenho nas vendas de caminhões pesados – Fotos: Volvo Caminhões

Semipesados ganham protagonismo na Volvo

Uma das estratégias da marca para atravessar o momento adverso é acelerar a oferta de caminhões semipesados. Com a chegada da motorização própria Volvo nos modelos Euro 6, a marca viu seu VM crescer rapidamente em segmentos como betoneira, mineração e aplicações florestais.

“O VM hoje é líder em betoneiras, com quase 50% de participação. E vem crescendo forte em outras vocações”, destaca o executivo. De acordo com ele, o volume de vendas de semipesados da Volvo subiu 26% no semestre. O que contribuiu para reduzir o impacto da retração nos pesados.

Mesmo assim, Cavalcanti reconhece que a demanda por pesados só deverá reagir de forma mais consistente quando as condições de crédito melhorarem. “Quem compra agora é quem realmente precisa renovar a frota, como os grandes frotistas, que não podem manter caminhões antigos por causa dos custos de manutenção e consumo de combustível”, explica.

Consórcio e seminovos ganham força no crédito travado

Com as taxas de juros em patamares historicamente elevados — hoje de 15% ao ano — e as linhas de Finame mais burocráticas e pouco atrativas, os transportadores passaram a buscar alternativas para viabilizar a renovação de frota. Uma delas é o consórcio.

“Temos visto empresas adquirindo cartas de consórcio e antecipando a contemplação com lances ou com a troca do seminovo. Assim, elas fogem do CDC e conseguem uma condição melhor para renovar o caminhão”, revelou Cavalcanti.

Volvo Caminhões projeta reação tímida no 2º semestre, mas puxado por semipesados
Todas as concessionárias da Volvo no País estão preparadas para atender clientes de seminovos – Fotos: Volvo

Além disso, a rede de seminovos da Volvo, considerada uma das maiores do Brasil entre as montadoras, vem sendo peça-chave na estratégia comercial. Segundo o executivo, “a operação de troca de usados permite girar a frota com mais agilidade e manter os negócios ativos, mesmo em meio às restrições do crédito”.

2026 sob vigilância: inadimplência e safra serão decisivas

Apesar de algum alívio no curto prazo, Alcides Cavalcanti alerta que o mercado ainda carrega incertezas para 2026. A taxa de inadimplência entre transportadores, especialmente os ligados ao agronegócio, subiu no primeiro semestre e, embora tenha se estabilizado, segue como ponto de atenção.

“Tivemos muitas recuperações judiciais e dificuldades no agro. Isso impacta não só o produtor, mas o transportador que atende o setor. Agora, parece que estabilizou, mas o cenário ainda é frágil”, diz.

A perspectiva de queda mais lenta dos juros e o comportamento das commodities agrícolas também serão determinantes. “Se a safra for boa e os preços sustentarem, o mercado reage. Mas se o cenário piorar, podemos ter um 2026 ainda mais desafiador”, acredita o diretor da Volvo Caminhões.

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