Um dia após o governo sofrer uma derrota no Congresso Nacional, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que as “dores” do processo democrático são “bem-vindas”. Na avaliação do chefe da autoridade monetária, o debate em torno da política fiscal no Brasil é um ponto positivo.
“O tema central que está sendo debatido é justamente como endereçar essa questão de ter medidas estruturantes para permitir a sustentabilidade da evolução da dívida pública. Isto é um ponto muito positivo”, afirmou.
A declaração foi realizada durante coletiva do Relatório de Política Monetária nesta quinta-feira (26).
Na noite da última quarta-feira (25), o Congresso Nacional aprovou projeto que derruba os decretos do governo sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Levantamento da CNN mostrou que 63% dos deputados de partidos com ministérios votaram contra o decreto do governo. No Senado, a votação foi simbólica, quando não há necessidade de votar nominalmente.
“Muitas vezes esse debate acontece com avanços e bloqueios, não de forma linear. Mas isso é próprio do processo democrático. Eu prefiro o processo democrático do que qualquer outra alternativa. Essas dores do processo democrático me parecem ser bem-vindas”, afirmou Galípolo.
O presidente do BC também destacou ser necessário aguardar o desdobramento final da crise sobre a derrubada do decreto do IOF para avaliar seu impacto na inflação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já admitiu a possibilidade de judicializar o caso.
“Se a gente pegar o que o próprio governo vem dizendo – a ministra Gleisi [Hoffmann] e o ministro Haddad falaram isso – na ausência do IOF, o que se tem dito é que teria que fazer um bloqueio e um contingenciamento ainda maior. Dentro da regra do arcabouço, é isso que deveria fazer. É preciso esperar qual vai ser o desdobramento final para ver como vai impactar a inflação corrente e as expectativas”, disse Galípolo.