Após descobertas, prazo de divulgação de arquivos sobre Epstein é estendido

A saga dos “arquivos Epstein” vai se estender até 2026, apesar de um prazo na semana passada para a divulgação de todos os registros.

O Congresso aprovou no mês passado — com apoio quase unânime — uma lei que exige que o Departamento de Justiça divulgue todos os seus arquivos sobre Jeffrey Epstein, o financista desacreditado e criminoso sexual condenado, acusado de abusar de dezenas de meninas menores de idade. Ele morreu por suicídio em 2019.

Os chamados “arquivos Epstein” são compostos por mais de 300 gigabytes de dados, documentos, vídeos, fotografias e arquivos de áudio que estão no principal sistema eletrônico de gerenciamento de casos do FBI e se originam, em grande parte, das duas principais investigações do FBI sobre Epstein, na Flórida e em Nova York, ao longo de décadas.

A nova lei de transparência deu ao Departamento de Justiça o prazo de 19 de dezembro para divulgar todos os registros relacionados a Epstein. Desde então, o departamento publicou centenas de milhares de arquivos ao longo da última semana em uma página do site do DOJ, batizada de “Biblioteca Epstein”.

Os registros incluídos no site do Departamento de Justiça abrangem documentos judiciais, respostas a pedidos de acesso a registros públicos e arquivos anteriormente divulgados pelo Comitê da Câmara sobre Supervisão e Reforma do Governo.

No entanto, muitas vítimas de Epstein, assim como parlamentares de ambos os partidos, criticaram as divulgações por serem incompletas e excessivamente censuradas. Outros levantaram preocupações sobre trechos com censura insuficiente que expuseram a identidade de pelo menos uma vítima.

E então o Departamento de Justiça fez um anúncio surpresa na última quarta-feira (24), informando que existem mais de um milhão de documentos recém-descobertos potencialmente relacionados a Epstein — e que serão necessárias “semanas” para revisá-los e divulgá-los.

Nomeados de Trump no Departamento de Justiça dizem que estão agindo de boa-fé para divulgar o máximo de material o mais rápido possível, ao mesmo tempo em que realizam o trabalho minucioso de revisar cada arquivo para garantir que as identidades das vítimas sejam protegidas, como exige a lei.

O Departamento de Justiça não respondeu ao pedido de comentário da CNN na última sexta-feira (26).

Aqui está o que você precisa saber sobre os registros que já foram divulgados, quantos arquivos ainda podem ser publicados nas próximas semanas e quais documentos devem ser observados no novo ano.

Quantos registros já foram divulgados?

A primeira divulgação ocorreu na sexta-feira, 19 de dezembro — que era o prazo final para liberar todos os registros.

O vice-procurador-geral Todd Blanche disse na ocasião que “várias centenas de milhares” de documentos seriam publicados naquele dia no site da “Biblioteca Epstein”.

Em uma publicação no X, o Departamento de Justiça afirmou estar “divulgando um enorme lote de novos documentos” e criticou as administrações Obama e Biden por não terem divulgado esses mesmos arquivos.

O departamento continuou a publicar registros até as primeiras horas de sábado, 20 de dezembro.

Outro conjunto maior de registros foi publicado na terça-feira, 23 de dezembro. O Departamento de Justiça afirmou que esse lote continha quase “mais 30 mil páginas”. Essa foi a divulgação mais recente.

É importante lembrar que, em novembro, o Comitê de Supervisão da Câmara divulgou separadamente cerca de 23 mil páginas de documentos relacionados a Epstein que obteve de seu espólio, e depois disso fez novas divulgações, com mais possivelmente por vir. Os registros anteriormente divulgados pela Câmara estavam entre os que foram republicados no novo site do Departamento de Justiça.

O que foi divulgado até agora?

A central da “Biblioteca Epstein” está dividida em quatro categorias.

Uma categoria é “Registros Judiciais”, que contém peças já públicas de mais de 50 processos civis e criminais relacionados a Epstein e à sua agora encarcerada associada Ghislaine Maxwell.

Outras categorias incluem “Lei de Liberdade de Informação”, que reúne documentos divulgados ao longo dos anos pelo FBI e outras agências de aplicação da lei por meio de pedidos de acesso a registros públicos. Há também uma categoria com um link para as divulgações do Comitê de Supervisão da Câmara.

Mas a categoria principal é “Divulgações do DOJ”, que contém a maior parte do material novo.

Foi ali que se soube da intimação de 2021 a Mar-a-Lago antes do julgamento de Maxwell e do e-mail de promotores federais sobre Trump ter voado no jato de Epstein nos anos 1990. Também foi ali que surgiram novas fotos do ex-presidente Bill Clinton convivendo com o magnata e nadando em uma piscina com Maxwell e outra mulher cujo rosto está censurado.

(Trump e Clinton negam qualquer irregularidade. Nenhum dos dois foi acusado por autoridades ou denunciado por crimes em conexão com Epstein.)

Essa categoria também incluiu uma carta manuscrita supostamente assinada por “J. Epstein” e endereçada ao criminoso sexual condenado Larry Nassar, que continha referências obscenas a Trump. A nota vulgar viralizou quase imediatamente após ser divulgada na terça-feira, mas, ao final do dia, o Departamento de Justiça anunciou que o documento era falso.

Um repórter perguntou no X por que o DOJ divulgaria um documento sabidamente falso. A conta respondeu que a lei exige a divulgação de todos os documentos relacionados a Jeffrey Epstein. “Você está sugerindo que a gente viole a lei?”, dizia a postagem.

Quanto mais ainda existe?

Em 19 de dezembro, dia da primeira divulgação, Blanche disse: “Espero que várias centenas de milhares a mais” de arquivos sejam divulgados no futuro. Um “informativo” do Departamento de Justiça publicado no domingo, 21 de dezembro, afirmou que ainda havia “centenas de milhares de páginas de material para divulgar”.

A liderança do Departamento de Justiça pediu na terça-feira, dois dias antes do Natal, que promotores de carreira da Flórida se voluntariassem “nos próximos dias” para ajudar a censurar os arquivos de Epstein.

Mas a grande revelação veio na véspera de Natal. Foi quando o DOJ anunciou que seu escritório em Manhattan e o FBI “descobriram mais de um milhão de documentos adicionais potencialmente relacionados ao caso Jeffrey Epstein”.

No anúncio, o Departamento de Justiça pediu paciência, afirmando: “Temos advogados trabalhando dia e noite”, mas que, “devido ao enorme volume de material, esse processo pode levar mais algumas semanas” antes que todos os novos documentos sejam publicados.

Isso gerou indignação bipartidária no Capitólio e entre a comunidade de sobreviventes de Epstein.

Alguns questionaram como tantos novos arquivos puderam ser descobertos um mês após a aprovação da lei e dez meses depois de a procuradora-geral Pam Bondi ter ordenado ao FBI que “entregasse os arquivos Epstein completos e integrais ao meu gabinete” — estabelecendo um prazo para 28 de fevereiro.

“Desde o começo, como temos dito, isso foi um desastre”, afirmou James Marsh, advogado de sobreviventes de Epstein, na sexta-feira, à CNN, no programa “The Situation Room”.

“Eles entraram nessa administração prometendo tornar públicos todos esses documentos logo no primeiro dia”, continuou Marsh. “Voltaram atrás. Divulgaram alguns. Tiveram pastas. Tiveram pelo menos um ano para começar a trabalhar nisso. E não é nenhuma surpresa que isso tenha chegado ao último minuto — e além — para que comecemos a ver um cumprimento real.”

O que ainda não foi divulgado?

Não está claro o que há no lote potencialmente novo de um milhão de documentos. Mas ele vem do FBI e do Distrito Sul de Nova York do Departamento de Justiça, que processou Maxwell e Epstein anteriormente, antes do suicídio dele.

Registros judiciais do caso dela indicam que houve “milhões de documentos produzidos na fase de produção de provas” para o julgamento.

O deputado Ro Khanna, democrata da Califórnia, tem sido um dos defensores mais vocais no Capitólio pela divulgação dos arquivos. Ele disse à CNN, em entrevista a Kaitlan Collins na semana passada, que “os documentos mais importantes estão faltando”.

Ele afirmou estar ansioso para que o Departamento de Justiça divulgue um rascunho de denúncia com 60 acusações contra Epstein que foi elaborado — mas nunca protocolado — por promotores federais em 2007. Há também um memorando de 82 páginas escrito em apoio à abertura desse processo.

Em vez de enfrentar acusações federais naquele ano, Epstein se declarou culpado na Flórida, em 2008, de acusações estaduais de prostituição, incluindo uma envolvendo menores de idade, e foi condenado a 13 meses de prisão, embora tenha sido autorizado a passar uma parte significativa desse período em “liberdade para trabalho” em seu escritório — um arranjo que gerou indignação entre as vítimas e foi amplamente criticado.

Khanna e o deputado republicano Thomas Massie, que coescreveu a Lei de Transparência dos Arquivos Epstein, ameaçaram possivelmente responsabilizar por desacato líderes do DOJ caso não cumpram e divulguem esses documentos, assim como todos os demais arquivos restantes exigidos por lei.

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