Uma das melhores coisas sobre fins de ano (na minha opinião) é conferir o que especialistas preveem como possíveis caminhos para o futuro. Por isso mesmo, decidi trazer para a coluna de hoje um relatório muito interessante com 9 macrotendências envolvendo IA e tecnologia para 2026, produzido pela Capgemini e assinado pelo futurista Mateus Oazem, gerente sênior de Narrativas Futuras da consultoria.
Algoritmos na mesa de decisões
Oazem descreve um mundo em que decisões passam por uma camada sintética de análise, alimentada por dados em tempo real. Governos, empresas e até processos de voto começam a incorporar sistemas capazes de aconselhar, prever e simular cenários. Na prática, isso significa que o algoritmo deixa de ser ferramenta e passa a atuar como conselheiro permanente. Já acontece quando um app sugere a melhor rota, o melhor investimento ou até orienta escolhas emocionais, mas aqui a diferença é de escala. O leitor sente isso quando percebe que decisões antes subjetivas passam a vir acompanhadas de “o sistema recomenda”.
Automação absoluta
A automação deixa de executar tarefas isoladas e passa a interpretar contextos, tomar decisões e agir em sequência. Máquinas executam, humanos supervisionam, corrigem e lidam com dilemas éticos. No cotidiano, isso aparece em atendimentos que não escalam para pessoas, em sistemas que compram, vendem ou ajustam serviços sem pedir permissão a cada passo. O trabalho humano migra do fazer para o julgar.

Personas sintéticas
Organizações passam a se apresentar como personas relacionáveis, usando avatares, bots e identidades sintéticas para conversar em escala individual. Atendimento, marketing e até liderança ganham forma de alguém com quem se fala, o que significa que a gente pode lidar cada vez menos com instituições abstratas e cada vez mais com encarnações digitais delas – um exemplo claro que dá para trazer aqui é a influenciadora virtual Lu do Magalu. Como ela, as personas sintéticas que tendem a se multiplicar explicam, convencem, acolhem, vendem e podem aparecer também no pós-venda. A fronteira entre marca, pessoa e personagem começa a ficar deliberadamente borrada.
O corpo como plataforma tecnológica
Tecnologia deixa de ficar no bolso e passa a integrar o corpo. Relógios de saúde, sensores, chips, fones com tradução simultânea e dispositivos de suporte físico inauguram uma lógica de augmentação permanente – essa palavra nem existe no nosso idioma, mas talvez acabe sendo usada com mais frequência. No dia a dia, isso aparece no monitoramento constante da saúde, na promessa de desempenho ampliado e nas discussões sobre quem controla esses dados corporais.
Ecossistemas sintéticos
A realidade passa a ser coabitada por pessoas e entidades artificiais. Não apenas produtos digitais são criados em tempo real, mas também cursos, músicas, influenciadores, executivos e até figuras políticas. O leitor percebe isso quando interage com vozes, rostos e perfis que parecem humanos, mas não são. Um exemplo mencionado por Oazem é o megassucesso Guerreiras do K-Pop, da Netflix. As personagens que existem apenas virtualmente dividem paradas de sucesso com artistas humanos, e parte do público consome ambos sem se importar com isso.
Matérias-primas “impossíveis”
A inteligência artificial passa a projetar materiais, combinando simulação computacional e biologia sintética. Surgem tecidos inteligentes, biocomponentes autorreparáveis e novos compostos que alteram construção, energia e indústria. Embora isso pareça distante, o impacto chega na forma de produtos mais leves, duráveis e eficientes, além de cadeias produtivas menos dependentes de tentativa e erro. O invisível da ciência acaba influenciando preço, sustentabilidade e disponibilidade no consumo cotidiano.
Clima vira preocupação obrigatória
Na real, já deveria ser, mas a gente sabe que o mundo é complicado. Porém, não tem mesmo como adiar mais a busca por soluções sustentáveis, porque a crise ambiental de que falavam já na nossa infância virou algo do presente. Cadeias produtivas terão de ser redesenhadas e surge até a noção jurídica de crime contra gerações futuras. Isso se traduz em mudanças de oferta, preços, exigências de transparência e pressão social por responsabilidade ambiental real.
Estruturas fixas dão lugar a arranjos temporários
Empresas, equipes e até relações pessoais se tornam ainda mais modulares e adaptativas. Organizações funcionam como organismos conectados por dados e contratos inteligentes, capazes de se reorganizar rapidamente. No cotidiano, isso aparece em trabalhos por projeto, múltiplas fontes de renda, vínculos mais flexíveis e uma sensação constante de reconfiguração.
Imaginar futuros vira vantagem competitiva
O futuro não será moldado só pela IA, mas pela convergência de várias tecnologias exponenciais, como robótica e computação quântica. Nesse cenário complexo, imaginar, especular e criar futuros deixa de ser exercício criativo e passa a ser função estratégica. Isso significa viver em um mundo onde a capacidade de adaptação, aprendizado contínuo e leitura crítica da tecnologia se torna tão importante quanto qualquer habilidade técnica específica.