De investimentos bilionários a capa da Time: Relembre ano da IA em 2025

Não é exagero afirmar que 2025 foi o ano da inteligência artificial.

A tecnologia pautou desde o uso em pequenos negócios, passando pela vigente transformação no mercado de trabalho, até decisões orçamentárias de governos. E, no centro desse debate, aparecem as big techs, que são em grande medida, as responsáveis pelo desenvolvimento das ferramentas.

Não atoa, uma das publicações mais consolidadas do mundo, a revista Time, elegeu personalidades nomeadas como “arquitetos da IA” as pessoas do ano em 2025.

Na capa do periódico americano, é possível ver nomes como o de Mark Zuckerberg (CEO da Meta), Lisa Su (CEO da AMD), Elon Musk (da xAI), Jensen Huang (presidente e CEO da Nvidia), Sam Altman (CEO da OpenAI).

A onda de investimentos em inteligência artificial foi significativa em 2025. Neste ano, empresas de IA ditaram o mercado financeiro em meio a disputas geopolíticas, além de países que investiram recursos na tecnologia.

Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, explica que os investimentos em IA cresceram de forma agressiva e relevante para o mercado neste ano, com “grandes companhias de tecnologia investindo uma quantia estimada em mais de US$ 400 bilhões em 2025 em infraestrutura dedicada a IA, crescimento superior a 60% em relação ao ano passado”.

Para além das grandes empresas, a especialista cita, que segundo estimativa da Crunchbase, plataforma de inteligência de negócios alimentada por dados empresariais em tempo real, as startups de IA captaram cerca de US$ 202 bilhões em 2025, o que representa quase 50% de todo o funding global de venture capital, contra 34% em 2024.

Todo esse investimento impulsiona o mercado e a economia real como um todo, afirma Zogbi.

As gigantes americanas da tecnologia têm gastado centenas de bilhões de dólares em infraestrutura de inteligência artificial, principalmente, centros de dados e os chips que os alimentam.

Segundo anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no início de 2025, o setor privado investirá até US$ 500 bilhões em infraestrutura para inteligência artificial do país durante os próximos anos.

Duas empresas que estão no centro do mercado de IA são a fabricante de chips Nvidia e a OpenAI.

No final de setembro, a Nvidia anunciou investimento de até US$ 100 bilhões na criadora do ChatGPT. Além disso, fornecerá à OpenAI microprocessadores para equipar centrais de processamento de dados.

Em novembro, Meta, Microsoft, Amazon, Apple e Alphabet, a empresa controladora do Google, anunciaram também investimento em despesas de capital, como aluguéis e equipamentos para data centers (centros de dados, em tradução livre) e infraestrutura.

A Microsoft, por exemplo, anunciou US$ 23 bilhões para inteligência artificial, com a maior parte do montante destinada à Índia.

Já a Amazon investirá até US$ 50 bilhões para expandir os recursos de IA e supercomputação para clientes governamentais dos Estados Unidos – um dos maiores investimentos em infraestrutura de nuvem direcionados ao setor público.

Também em novembro, a Arábia Saudita realizou um investimento bilionário – utilizando a riqueza vinda do petróleo – para se tornar potência global em IA.

O principal veículo de investimento é a Humain, empresa nacional que desenvolve conjunto completo de centros de dados, recursos em nuvem, modelos de linguagem ampla e aplicativos.

EUA x China

Além disso, há a questão geopolítica em torno da corrida tecnológica entre Estados Unidos e China, que enfrentaram também neste ano uma guerra tarifária, promovida pelo presidente americano, Donald Trump.

Zogbi avalia que, em 2025, a disputa entre os dois países deixou de ser pano de fundo e passou a moldar diretamente o fluxo de investimentos em IA.

A estrategista-chefe da Nomad relembra ainda que o governo Trump começou o ano apertando novamente os controles de exportação de chips avançados de IA, criando um sistema de “três tiers” de acesso a GPUs: aliados estratégicos com acesso quase irrestrito, países com cotas rígidas e “countries of concern” (com foco em China) com restrições severas.

“A resposta chinesa foi acelerar o esforço de autossuficiência, com aumento de investimentos em foundries locais como a SMIC, em grandes modelos domésticos via Baidu, Alibaba e Huawei, e em infraestrutura nacional de IA, enquanto Pequim usou export controls sobre minerais críticos para ganhar poder de barganha.”

Segundo ela, esse ambiente leva a uma espécie de “corrida armamentista de capex [despesas de capital]”.

“Os EUA e aliados direcionam incentivos e subsídios para consolidar liderança em semicondutores e IA, enquanto a China tenta fechar o gap com investimento estatal e políticas industriais agressivas.”

Investidores globais têm aumentado suas apostas em empresas chinesas de inteligência artificial, à procura de uma nova DeepSeek e diversificação. Esse movimento ocorre também em meio às preocupações sobre a existência de uma bolha especulativa no setor em Wall Street.

Em dezembro, a Moore Threads – conhecida como uma potencial “Nvidia Chinesa” – estreou em Xangai, em meio ao esforço de Pequim para encerrar a dependência de tecnologia estrangeira.

A Moore Threads, fundada em 2020 por um ex-executivo da Nvidia, quadruplicou seu valor no primeiro dia de negociação no início do mês, após levantar mais de US$ 1 bilhão em sua IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês).

Os investidores têm despejado bilhões no setor tecnológico chinês desde que a empresa emergente chinesa DeepSeek lançou um modelo de linguagem de grande porte no início deste ano para rivalizar com o ChatGPT da OpenAI, a uma fração do custo.

“Bolha de IA” é principal temor para o mercado

Em meio ao crescente boom de inteligência artificial, preocupações, principalmente quanto a uma possível “bolha de IA” também se intensificam.

Essa teia de investimentos cria entrelaçamento de acordos com fornecedores investindo no próprio cliente, em tese, fabricando a própria demanda, alertam especialistas.

Zogbi explica que o temor é superior a qualquer outro, como inflação, questões geopolíticas e o estresse de crédito.

“A Global Fund Manager Survey do Bank of America mostrou, em outubro, que 54% dos gestores já consideravam os ativos ligados à IA em ‘território de bolha’, com 60% dizendo que equities globais como um todo estavam sobrevalorizadas.”

“Em novembro, a mesma pesquisa mostrou 45% dos gestores citando bolha de IA como maior risco de cauda do mercado. Além das incertezas relacionadas com os valores e os gastos, as companhias passaram a tomar crédito para investir em IA, o que aumenta as incertezas em relação ao cenário anterior, em que a situação ainda era de uso de caixa excedente.”

Para a especialista, o ano de 2025 consolidou o medo de bolha de IA como o novo “Fantasma do Mercado”, apesar de boa parte dos mesmos gestores reconhecerem ganhos reais de produtividade ligados à tecnologia.

Preocupações em Wall Street sobre o retorno e chips

Além disso, há uma preocupação de Wall Street quanto à demora para retorno dos enormes investimentos em IA, além do “tempo de vida” dos chips.

Para as empresas que dependem da IA para o seu futuro, a questão da frequência com que terão de atualizar ou substituir chips avançados é fundamental. Isso se dá principalmente porque há um ceticismo crescente sobre se a IA produzirá retornos grandes ou rápidos o suficiente para recuperar os investimentos existentes e cobrir os custos futuros de infraestrutura.

Isso está alimentando preocupações em torno de uma bolha de IA — preocupações de que o hype em torno da IA e os gastos estejam fora de sincronia com seu verdadeiro valor.

As ações das “Sete Magníficas” empresas de tecnologia representam cerca de 35% do valor do S&P 500, levantando questões sobre o que uma queda da IA significaria para a economia.

Além disso, não é claro por quanto tempo as GPUs (unidades de processamento gráfico) de última geração – chips mais usados para treinamento e processamento de IA – permanecerão úteis.

O economista irlandês David McWilliams afirmou, em entrevista recente à revista norte-americana Fortune, que a IA “indubitavelmente irá quebrar” uma vez que é “uma ‘alface’ digital” propensa a murchar logo.

“Você está investindo em algo que é perecível. As mudanças tecnológicas sugerem que, se você comprar uma GPU hoje, o chip estará obsoleto no ano que vem. [As empresas de IA estão] investindo enormes quantias de dinheiro em alface, que vai estragar agora”, apontou McWilliams.

Quanto mais rápido os chips se degradam, mais as empresas sentirão pressão para obter retorno sobre a IA para financiar sua substituição.

E a demanda de longo prazo por IA permanece incerta, especialmente à luz dos relatórios deste ano que indicam que a maioria das empresas que implementam a tecnologia ainda não viu benefícios em seus resultados financeiros.

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