O Chile elegeu no domingo (14) para presidente o direitista José Antonio Kast, marcando grande mudança na política do país.
Em 2021, Kast havia perdido a disputa presidencial para o presidente de esquerda Gabriel Boric. Mas agora, suas propostas encontraram ressonância entre os eleitores, em sua maioria preocupados com a criminalidade e a imigração.
Ele prometeu fechar as fronteiras para imigrantes irregulares, combater o crime organizado e acabar com as longas filas de espera nos hospitais.
Dentre os diferentes desafios do cargo, um dos primeiros que o novo presidente enfrentará será governar com um Congresso dividido.
Como o Congresso do Chile está dividido ?
O cenário após as eleições — em que os chilenos votaram para deputados e senadores, além da presidência — mostra que nenhuma força política terá maioria absoluta na Câmara ou no Senado, o que forçará negociações parlamentares.
Para Kast, fundador do Partido Republicano, o cenário de uma eventual negociação poderia ser mais favorável, já que recebeu apoio de outros candidatos que perderam no primeiro turno: Evelyn Matthei, da direita tradicional, e Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, de ultradireita.
Com o apoio dessas figuras, o bloco de forças de direita estaria próximo da maioria absoluta nas duas câmaras.
No Senado, nestas eleições os cidadãos votaram pela renovação de 23 dos 50 assentos. Sendo 11 dessas vagas tenso sido conquistadas pela aliança de esquerda, Unidad por Chile.
Cinco assentos foram conquistados pela aliança Chile Grande y Unidos, alinhado à direita tradicional de Evelyn Matthei. Seis foram para a aliança Cambio por Chile, da ultradireita alinhada com Kast e Kaiser, enquanto o restante foi para o aliança Verdes, Regionalistas e Humanistas.
Desta forma, o Senado ficará configurado da seguinte forma: 20 cadeiras para Unidad por Chile, 18 para Chile Grande y Unidos, sete para Cambio por Chile, três para Verdes, Regionalistas e Humanistas, e duas para legisladores independentes.
Assim, o bloco de forças de direita ficaria com 25 vagas, apenas metade do Senado.
Enquanto isso, na Câmara dos Deputados, onde foram renovadas as 155 cadeiras, a situação é semelhante.
A esquerda da Unidad por Chile conquistou 61 vagas, seguida pela ultradireita do Cambio por Chile com 42, a direita tradicional do Chile Grande y Unidos com 34, o Partido Popular do candidato presidencial Franco Parisi com 14, os Verdes, Regionalistas e Humanistas com três e, finalmente, um deputado independente.
Neste caso, embora a aliança de esquerda tenha saído na frente, o bloco de forças de direita formado por Chile Grande y Unidos e Cambio por Chile possui 76 assentos, precisando apenas de mais dois para obter a maioria absoluta.

Negociar é a única saída
Com estes números, fica claro que Kast, como vencedor, terá que negociar, analisou a especialista Mónica Ríos Tobar, diretora para a América Latina e Caribe da organização não governamental International IDEA.
Em uma entrevista ao “E isto não é tudo”, o podcast em espanhol da Universidade de Georgetown, Ríos explicou que as reformas da Constituição chilena, por exemplo exigem quatro sétimos de cada câmara, uma margem que nem o bloco de Jara nem o de Kast alcançarão sozinhos.
Neste contexto, acrescentou Ríos, os 14 votos do Partido Popular serão fundamentais na Câmara dos Deputados.
“O partido de Franco Parisi, o Partido Popular, conseguiu obter 14 cadeiras, pouco menos de 10% (do total da câmara), mas se tornará um partido essencial, um pivô para a governabilidade do país daqui para frente”, explica.
Cristóbal Huneeus Lagos, analista e economista, expressou um ponto de vista semelhante. Em entrevista ao jornal El País, ele disse que Kast “terá que mudar o foco”, porque precisa do apoio da centro-direita.
Prioridades elegidas por Kast
José Kast se inspirou nos Estados Unidos para sua abordagem de linha dura nas fronteiras e, no ano passado, visitou as megaprisões salvadorenhas construídas pelo presidente Nayib Bukele, um modelo que sua plataforma defende, juntamente com uma zona de fronteira militarizada.
Ele também elogiou o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), e o presidente dos EUA, Donald Trump, prometendo construir uma força policial especializada nos moldes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA), encarregada de rastrear imigrantes irregulares e deportá-los rapidamente.
O plano econômico dele inclui leis trabalhistas mais flexíveis, cortes nos impostos corporativos e menos regulamentação (embora se espere que ele modere os cortes de gastos considerados irreais) à medida que reformula sua plataforma para incorporar as de seus principais rivais de direita.
Kast já afirmou que revogaria os direitos limitados ao aborto no Chile e proibiria a venda da pílula do dia seguinte.
Durante a campanha ele se concentrou em outras questões, mas disse que não mudou de opinião.
“Eu apoio a vida desde a concepção até a morte natural”, declarou o presidente eleito quando questionado sobre o assunto durante o último debate televisionado.