Mesmo interações breves com ferramentas de inteligência artificial podem moldar decisões políticas de maneira significativa, segundo um novo estudo da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Em um experimento com quase 300 americanos, pesquisadores constataram que versões enviesadas do ChatGPT — com inclinação liberal ou conservadora — foram capazes de alterar as posições dos participantes em questões ideológicas e na distribuição de verbas públicas fictícias, com base nas orientações do sistema com que interagiam.
Como o estudo foi feito?
Os participantes, divididos entre republicanos e democratas, foram convidados a conversar com três versões distintas do ChatGPT: uma neutra, uma com viés progressista e outra com viés conservador. Em uma das tarefas, eles precisavam formar uma opinião sobre quatro temas políticos pouco conhecidos. Em outra, simulavam a rotina de um prefeito decidindo como repartir recursos entre áreas com diferentes associações ideológicas, como educação, segurança e assistência social.
Durante as atividades, os voluntários trocavam de 3 a 20 mensagens com o chatbot antes de tomar suas decisões.
O que foi descoberto?
Tanto eleitores de esquerda quanto de direita mudaram de posicionamento após conversar com os modelos tendenciosos — e sempre na direção do viés do sistema. O chatbot liberal, por exemplo, levou a decisões mais progressistas; o conservador, a escolhas mais alinhadas à direita. As alterações ocorreram mesmo entre pessoas com opiniões políticas já formadas.
Os pesquisadores também observaram que os sistemas tendenciosos influenciavam o tom das conversas ao enfatizar certos temas. Enquanto o modelo liberal priorizava pautas como educação e assistência social, o conservador destacava segurança pública e apoio a veteranos. Os participantes com maior conhecimento sobre inteligência artificial foram os menos suscetíveis à manipulação, o que indica que a familiaridade com a tecnologia pode servir como um fator de proteção contra esse tipo de influência.
