
Graças à inteligência artificial, um sambista que perdeu a voz vinte anos atrás voltou a cantar. Esta é uma daquelas histórias que parecem coisa de filme de Hollywood, mas aconteceu aqui no Brasil mesmo. Foi protagonizada pelo músico Cleber Augusto, hoje com 74 anos, ex-integrante do Fundo de Quintal que há mais de duas décadas convive com a afonia após um câncer na garganta.
O que a doença levou, a tecnologia trouxe de volta: a alegria de compartilhar novamente seu talento com o mundo. E resultou num álbum com catorze canções, uma delas inédita. Mas como isso foi possível?
A reconstrução da voz de Cleber Augusto envolveu a análise de gravações antigas do artista, feitas logo após sua saída do Fundo de Quintal, já que os direitos das gravações do grupo pertencem a outra gravadora. Esses áudios foram combinados aos do cantor e instrumentista Alexandre Marmita, que tem timbre semelhante ao do sambista. Em estúdio, foram registrados seus vocais, que então serviram para alimentar softwares de inteligência artificial.
O resultado dessa jornada é o álbum Minhas Andanças, que acaba de ser lançado pela gravadora Warner. São catorze faixas, uma delas inédita: chama-se Imã, foi composta há mais de 20 anos e resgatada de uma fita antiga do artista. Produzido por Alessandro Cardozo e Tony Vieira, o disco (eu amo falar disco, em vez de álbum) conta com a participação de Zeca Pagodinho, Péricles, Seu Jorge, Tiê, Roberta Sá e mais um monte de gente bacana. “A voz é a alma da música, e a IA me permitiu manter a essência da minha interpretação”, afirmou Cleber Augusto.